quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um mate e um diálogo. Curtos.

Sentaram -se os dois - ele e ela - sob os galhos secos de um ipê sem cor. O mate, recém cevado, aquece, vez por vez, o corpo de cada um. O silêncio não se desfaz.
A árvore é mera formalidade. Não há folhas, flores nem cores. Não há sombra.
Também não há sol. Só o frio.
Trocam eles olhares tristes, cheios da dor que os invade pela crescente distância imposta entre dois corpos que só conheciam o amor até então.
É o último mate. A última conversa.
O passado os havia ensinado o que o amor era, e certamente eles sabem que ali há esse sentimento vivo. Ainda assim, não mais o querem. Não daquela forma.

Ele estende a mão, com pouca firmeza ao segurar a cuia. As mãos que se tocam quando o mate é passado transferem a mistura de amor e desejo contidos em cada um deles.
Ele repete que a ama, ainda que ela tenha dúvidas quanto a isso, e, com lágrimas nos olhos, promete lutar contra seus próprios sentimentos e não mais viver por ela. Tolice. Os dois sabem que não há forçaspara uma luta tão desgastante e tão injusta.

A partir dali, cada um teria sua cuia e sua solidão. O amargo da falta que o amor lhes faz vai ser diferente para eles. O ipê não mais florescerá.

Eles já conhecem a dor de cada segundo sem que seus olhares encontre o rosto do outro, sem que os corpos e almas se completem como costumava ser em outros invernos.
Tudo bem, ela sabia que conseguiria viver com isso.
Ele sabia que não mais viveria.

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